ENFIM SALVO
Quando
criança morava num lugar onde tinha muitas famílias, cada uma tinha seu sitio
para trabalhar e garantir o sustento da família. As pessoas que ali moravam eram
muito amigas e se davam bem e ajudavam umas as outras, era um lugar muito
bom,apesar da pobreza que existia nesse lugar.
Eu
adorava esse lugar pois tinha muitas crianças e eu é claro tinha muitos amigos
com os quais brincávamos muito aos domingos, pois durante a semana quando não ia
a escola tinha que ajudar minha família na roça, as vezes tinha um pouco de
preguiça mas minha mãe sempre dizia que se não trabalhasse nunca iria conseguir
nada na vida.
Foi
nesse período da infância que tudo aconteceu.
No
início eu estudava com meus dois irmãos mais velhos, mas naquele ano tudo
mudou,pois na nossa escolinha só tinha aula ate a quarta serie e depois tinha
que estudar na cidade vizinha onde funcionava o ginásio,era muito longe dava
dez quilômetros ida e volta.
A minha
professora naquele ano não era mais a mesma do ano anterior, ela se chamava
Maria, e por ter uma deficiência em uma das pernas, nos a chamávamos de Maria
manquinha,ela era bem moça,com pouca experiência.
Ela
lecionava para quatro turmas juntas e ainda tinha que fazer a merenda e buscar água longe da escola na casa de um vizinho.
Naquele
dia a professora havia feito arroz com charque, era o tipo de carne que o
governo mandava para as escolas,aquilo era muito duro para mastigar, foi ai que
aconteceu o pior,eu estava comendo aquilo com gosto e de repente tentei engolir
o pedaço de carne,mas não desceu na garganta e ai me afoguei,minha professora
não sabia o que fazer só me deu água para beber,mas a água também não descia na
garganta, nesse momento meus amigos o Tonho e o neguinho como eram chamados
vira o meu sofrimento, tentaram me levar
ate a casa de um vizinho próximo,mas eu não conseguia mais andar, tinha momento
que escurecia tudo a minha volta ai eu me sentava no chão, quando clareava um
pouco eu andava novamente,fui ficando cada vez mais afogado quando de repente
não vi mais nada, o Tonho apertou a minha garganta com muita força e bateu em
minhas costas com um soco forte, e foi ai que o pedaço de carne desceu pela
garganta abaixo. Acordei e vi meus amigos
todos preocupados comigo.
Quando
fui para casa meus amigos foram juntos e contaram tudo o que havia acontecido
comigo.Nos próximos dias tive que ficar em casa com muita dor de garganta.
Depois
desse episodio nossa amizade continuou ainda mais forte.
Alguns
anos depois vim morar em Terra Nova e perdi o contato com eles, mas posso
afirmar que esse passado eu nunca vou esquecer.
PROFESSORA
MARCIA DUESSMANN ROHDEN
CURSO
OLIMPIADAS DE PORTUGUÊS, G. MEMORIAS LITERÁRIAS
ESCOLA MUNICIPAL XANXERE
A natureza às vezes nos assusta...
Meados da década de 70, Santa
Carmem, Mato Grosso, Brasil; um lugar hostil pelo seu aspecto natural quase
intocado pelo homem; mas ao mesmo tempo uma esperança, o começo de uma nova
possibilidade de dias melhores, minha família em formação percorrendo caminhos
reais onde a fauna e a flora mostravam-se quase
intocáveis; e em meio a elas “eu” um ser humano receoso, assustado.
Eu fazia parte desta ocupação, minha
família tentava organizar o nosso espaço de sobrevivência e para isso acontecer
era inevitável o contato visual a predadores carnívoros “felinos” enfim o
motivo de muitos sustos “a onça pintada”.
O caminho para a escola era temido; por
muitas vezes avistei a fera a dormir tranquilamente a beira do caminho, não
sabia o certo, quem estava no caminho de quem, só sei que eu andava muito
assustado; de tanto pavor começava a ver coisas “onças” em tudo que é lugar,
meu medo sempre tomava a forma da primeira onça que havia visto uma vez.
Parecia que ninguém enxergava só eu; cheguei a dar vexame em uma ocasião,
chamei a vizinhança para matar a fera, mas qual; não havia nada ou talvez ela
tivesse fugido com meus gritos...
Enfim os anos foram passando, as
florestas sendo derrubadas e a tal ameaça já não me dava tanto medo, enfim o
ser humano havia se estabelecido no local. Autor: Marcos D.
Rohden
Voando para o desconhecido
Ainda me lembro, foi no
ano de 1978 e os índios das reservas indígenas de Nonoai, Planalto, Tenente
Portela e Miraguaí no Rio Grande do Sul se rebelaram contra os posseiros que
trabalhavam em suas terras decidiram expulsá-los, segundo informações não
oficiais eles foram influenciados obviamente por políticos que jamais assumiram
serem responsáveis pela ação de incentivar os índios a tomar uma decisão tão
radical, depois do movimento indígena a sociedade e o povo despejado das áreas
indígenas começaram a se preocupar seriamente e passaram a procurar uma solução
para resolver o problema criado pela expulsão dos colonos das terras indígenas,
mas para onde esse povo iria? Foi nesse momento que entrou em ação o governo
federal que resolveu assentar os colonos no norte de mato grosso estado que
recém tinha sido dividido de inicio essa decisão assustou uma parte e motivou
outra que ficaram eufóricos para conhecer o tapete verde do Brasil e os animais
lá existentes, pois se falava muito das onças que atacavam pessoas e das cobras
que tinham um tamanho gigantesco tamanho de um pinheiro e muitos acreditavam
nessa verdade fantasiosa.
No dia 27 de novembro de 1978
partimos para o Mato Grosso em um numero aproximado de 130 pessoas que foram
levadas de Nonoai a Porto Alegre em três ônibus da empresa Ouro e Prata até o
aeroporto Salgado Filho de Porto Alegre, chegamos no aeroporto às 21:00 horas e
voamos destino a Cuiabá às 11:00 horas em um avião da Vasp fretado pelo governo
federal, ficamos todos maravilhados com a vista deslumbrante da cidade durante
o vôo que aos poucos foi ficando para traz e cada vez mais distante dos nossos
olhos até desaparecer por completo a viagem foi muito divertida e aconteceram
muitas coisas durante o vôo por que nós os passageiros estávamos muito
amedrontados por ser a primeira vez que voávamos e pelo barulho ensurdecedor
que as turbinas faziam e pelo barulho da turbulência quando passamos por uma
tempestade no meio da viagem. Chegamos em Cuiabá por volta das 2:00 horas do
dia 28 de Novembro
de 1978 e quando descemos do avião nos deparamos com uma
chuva forte e uma temperatura de mais de30 graus que contrastava com a
temperatura do avião que era de 18 graus e isso causou um grande desconforto a
todos que depois tivemos problemas relacionados à água quente que tomamos
durante a viagem de Cuiabá com a Tut transporte até Terra Nova que durou
aproximadamente 14:00 horas. Mas durante a viagem aconteceu alguns episódios
interessantes como aquele, que quando eu pedi ao motorista para que ele parasse
o ônibus, pois eu precisava ir para o mato fazer minhas necessidades e ele me
perguntou com um sotaque totalmente diferente do nosso, parecendo sotaque
nordestino, falando assim:
-Você vai c....? ou vai m...? Eu
respondi a ele que eu ia fazer as duas coisas, então ele falou:
-
cuidado com a onça... e eu disse a ele que eu precisava ir que não tinha
problema por que a minha necessidade era maior do que o medo da onça. Foi então que todos os passageiros acabaram
descendo do ônibus e indo para o mato porque ninguém imaginava a distância que
nos separava do próximo povoado ou cidade. E foi assim entre sustos e surpresas
que chegamos na agrovila onde moramos até hoje e foi quando chegamos à maioria
das mulheres entrou em desespero, pois o lugar era completamente deserto e
tinha somente aberto aproximadamente 200 metros de
largura por 1.500
metros comprimento local onde tinha as casinhas do
projeto com dois quartos sem portas uma área aberta sem paredes então a gente
ouvia as mulheres chorando e falando;
nunca mais iria ver os amigos e parentes; pois ficaram no sul e a distância
era de aproximadamente 3.000 quilômetros . Durante a noite ninguém
conseguiu dormir devido ao medo de bichos e cobras, de madrugada os bugios
começaram a gritar e todos pensavam que aqueles gritos eram de onça, pois eram
muitos fortes e interruptos dando impressão que tinha centenas delas muito
próximas de nós e foi assim que passamos nossos primeiros dias de mato grosso
até surgir a primeiro caso de Malária que todos pensavam que fosse gripe devido
à febre forte e pelos sintomas de dor de cabeça e ao sermos informados de que
não era gripe sim malária muitos começaram a planejar o seu retorno para o sul
do país.
Pedro
Danilo Faoro
“O Herói da minha vida”
Era um dia normal de aula no pré-escolar no colégio Nossa Senhora d
Fátima, minha professora veio dizendo para fazermos uma lembrança para o dia
dos pais. Eu toda empolgada, enfeitei uma caixinha, toda decorada com meu amor.
Pintei também um lenço, com florzinhas nas laterais. Lembro que meu pai ficou
orgulhoso de mim, pois com tudo que havia acontecido, ele me recompensava com
seu amor.
Lembro que nas manhãs mais frias de Caxias do Sul, eu me aconchegava em
seus braços para me aquecer, me envolvendo pelos seus cuidados.
Ficava admirada que apesar de ter sido adotada isso não o influenciava
nos seus cuidados comigo. Para mim ele era meu herói, fazia tudo e mais um
pouco para me defender.
Aos 12 anos, quando o perdi por uma doença nos rins meu mundo acabou,
fiquei desnorteada, as noites ficaram mais frias e as manhãs mais tristes,
ficava com medo, pois meu herói não estava mais comigo, quem iria me defender
dos meus temores?
Naquele tempo não via as outras pessoas ao um redor, somente meu pai.
Pelo desespero de não telo mais comigo, me apeguei ao meu irmão, que logo
depois veio a falecer com apenas 14 anos. Eu desnorteada com tanta tristeza e
perda de heróis, enxerguei minha mãe, que hoje é a pessoa mais importante da
minha vida. E meus heróis, Ah!!! Esses estão no céu, protegendo alguns anjos do
frio.
Kátia Fabiane Scheid Bianchim
O QUE A
VIDA TEM A NOS OFERECER
Texto memórias de
Jussara tem por objetivo entrelaçar as memórias de infância de uma educadora de
uma escola pública da cidade de Terra Nova do Norte.
Abri o armário dos anos e busquei, em cada prateleira, os
planos não concretizados. Alguns amores não resolvidos saltaram da quina da
gaveta. Novamente o amargo das lágrimas subiu pela garganta. Fiz um nó bem
bolado com cada um deles, abri um saco plástico de cem litros e joguei dentro,
bem ao fundo. Foi quando meu braço esbarrou na caixa de lembranças. Infância,
parentes, valores e descobertas se confundiram com adolescência. Em meio a
amigos de escola, desaparecidos pelo traço da vida, momentos de desencontro
comigo mesma desfilaram pelas sombras de versos amassados desprezados no auge
dos hormônios.
Destilando imagens, filtrei poucas gravuras, rasguei
algumas paisagens e ateei fogo nos rostos indefinidos. Mais um tanto pro saco
de cem litros. Avistei os cabides com meus dias positivos e de glória, meus
desejos irreais personificados perpetuando no espaço de um imenso rolo
compressor de histórias, lembranças de uma infância contraditória, sofrida
contada em meio a lágrimas e sorrisos, marcada pela saudade. Hoje, a maioria
não me é mais necessária. Outros tantos valores escolhi e me esqueci de abrir
espaço nessa caixa. Outros nós e mais calor das labaredas a consumir o que
conquistei. Tornado pó, engolido pelos trilhos da vida. Prateleiras de vidro
vazias. Armei fogueira com meu conhecimento das artes, literatura, cinema,
esporte e tudo o mais que com orgulho organizei e adquiri; nela vomitei a bílis
de minhas noites longas em um colchão duro e minhas solitárias manhãs no
caminho de casa até a escola, com meu caderno no saco plástico de arroz andava,
andava entre a mata fechada.
Minha mente ferveu ao lembrar como eu era tímida, agressiva
e solitária. Não querendo demonstrar fragilidade a ninguém muito menos ao
professor Pedro. Vista e viva, a magenta toma toda a forma de minha mente:
restou-me somente o verbo amar. Sons, odores, sabores e cores. Banhei-me na
lembrança da plantação de café que eu ajudava meus pais desde muito cedo, dos
orgasmos escondidos, por não ter tempo de brincar e me distrair, pois não tinha
nem um tipo de brinquedo somente as bonecas de milho quando eu pegava
escondido, porque não podia desperdiçar era dali que saia o pão para por a mesa
e eu muito menina, mas já sabia disso.
Então aspirei todo o
ar aparente, bati as portas do armário da minha vida ao lembrar-me de quando
deslizava as costas e sentava no chão a espera ansiosa de ouvir o programa da
radio Nacional o programa de Edelso Moura e Marcia Ferreira. Pois isso era a
única diversão que eu tinha, ficava atenta até a última palavra do programa.
Então foi assim toda minha infância pobre sem compartilhar com ninguém meus
sentimentos. E ao trancar o armário de minhas lembranças esqueci a chave da
memória dentro, então no meu dia - a - dia ao ver alguém muito retraído me
recordo o quanto eu era só.
Autoria
do texto: ANDRESA CARVALHO DA SILVA
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